19 de janeiro de 2010

Esmola

Estava eu hoje no metrô contando as moedas para comprar o meu bilhete (pois é, ainda não conseguir sacar dinheiro desde que cheguei) e um moleque veio:

- Tia, me dá dinheiro pra eu comprar a minha passagem?

- Não tenho dinheiro nem pra comprar a minha, quanto mais a sua!

E fui embora.

No entanto, dentro do metrô fiquei refletindo a respeito da minha resposta... E descobri uma bem melhor quando alguém vier pedir dinheiro na rua:

- Você recebe o bolsa-família? Sim? Então você já recebeu a sua cota de esmola desse mês, paga com o meu dinheiro, e você ainda quer mais? Vai se f#@x%*!

Essa sim é uma boa resposta.

13 de janeiro de 2010

Desabafo de uma E.T.

Desde que retornei ao Brasil estou me sentindo deslocada.

Pareço não pertencer mais ao lugar, à minha casa, a essa cidade. Não me sinto à vontade em lugar nenhum, como se eu fosse um ET aonde quer que eu vá.

Tudo está esquisito, e esse sentimento de inadequação a cada dia se manifesta de alguma forma diferente.

Bom, não posso reclamar muito, já que muitas coisas aconteceram desde que voltei que todo mundo anda dizendo que sou virada pra lua de tanta sorte.

Mas apesar disso, o sentimento de confusão, inquietação e inadequação continua lá, firme e forte, como se eu pertencesse a outro planeta, por um milhão de motivos.

Por conta disso resolvi publicar essa crônica, que nem é de minha autoria, mas que exemplifica uma das situações na qual me encontro, uma vez que estou solteira (não, não casei com nenhum australiano, aos curiosos de plantão que poderiam estar se perguntando isso), e desde que cheguei (e diga-se de passagem, o que era uma das "rotinas" que eu mais gostava antes de ir embora) não ando com a menor vontade de sair em baladas cheias de gente (não fui em nenhuma, aliás, estando há quase um mês por aqui), ou de gastar fortunas num barzinho cheio de babacas bêbados e nem mesmo com paciência para fazer novas amizades ou conhecer aquele que poderia ser 'o cara'.

Não sei quanto tempo essa fase vai durar. Se é somente um pós-Australia que logo se adapta novamente à realidade de São Paulo e do Brasil ou se eu terei que ir embora para o exterior para conhecer gente interessante, diferente e novamente me sentir "em casa".

Mas, independentemente do que aconteça, definitivamente, as coisas nunca mais serão as mesmas.

(PS: Se alguém souber o autor por favor me comunique para que eu possa fazer a devida citação, pois achei esse texto num arquivo do meu computador sem nenhuma referência.)

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Não sei mais o que fazer das minhas noites durante a semana.

Em relação aos finais de semana já desisti faz tempo: noites povoadas por pessoas com metade da minha idade e do meu bom senso.

Nada contra adolescentes, muitos deles até são mais interessantes e vividos do que eu, mas tô falando dos de "fabricação em série". Tô fora de dançar os hits das rádios e ter meu braço ou cabelo puxado por um garoto que fala tipo assim, gata, iradíssimo, tia. Tinha me decidido a banir a palavra "balada" da minha vida e só sair de casa para jantar, ir ao cinema ou talvez um ou outro barzinho cult, desses que tem aberto aos montes em bequinhos charmosos.

Mas a verdade é que por mais que eu ame minhas amigas, a boa música e um bom filme, sinto falta de um amor. Já tentei paquerar em cafés e livrarias, não deu muito certo, as pessoas olham sempre pra mim com aquela cara de "tô no meu mundo, fique no seu".

Tentei aquelas festinhas que amigos fazem e que sempre te animam a pensar "se são meus amigos, logo devem ter amigos interessantes". Infelizmente, essas festinhas são cheias de casais e um ou outro esquisito desesperado pra achar alguém só porque os amigos estão todos acompanhados. Tô fora de gente desesperada, ainda que eu seja quase uma.

Baladas playbas com garotas prontas para um casamento e rapazes que exibem a chave do Audi, tô mais do que fora. Baladas playbas com garotas praianas hippie-chique que falam com voz entre o fresco e o nasalado (elas misturam o desejo de ser meigas com o desejo de ser manos com o desejo de ser patos) e rapazes garotos-propaganda Adidas com cabelinho playmobil, também tô fora. MUNDO IDIOTA.

O que sobra então? Barzinhos de MPB? Nem pensar. Até gosto da música, mas rapazes que fogem do trânsito para bares abarrotados, bebem discutindo a melhor bunda da firma e depois choram "tristeza não tem fim, felicidade sim" no ombro do amigo têm grandes chances de ser aquele tipo que se acha superdescolado só porque tirou a gravata e porque fala tudo metade em inglês, ao estilo "quero te levar pra casa, how does it sound?"

Para dançar, os muquifos eletrônicos alternativos são uma maravilha, mas ainda que eu não seja preconceituosa com esse tipo, não estou a fim de beijar bissexuais sebosos, drogados e com brinco pelo corpo todo.

Tô procurando o pai dos meus filhos, não uma transa bizarra. Minha mais recente descoberta são as baladinhas também alternativas de rock. Gente mais velha, mais bacana, roupas bacanas, jeito de falar bacana, estilo bacana, papo bacana. Gente tão bacana que não acha ninguém bacana. Na praia, quem é interessante além de se isolar acorda cedo, aí fica aquela sensação (verdadeira) de que só os idiotas vão à praia e às baladinhas praianas.

Orkut, MSN, chats. Me pergunto onde foi parar a única coisa que realmente importa e é de verdade nesta vida: a tal da química.

Mas então onde, meu Deus? Onde vou encontrar gente interessante?

O tempo está passando, meus ex já estão quase todos casados, minhas amigas já estão quase todas pensando no nome do bebê.

E eu? Até quando vou continuar achando todo mundo idiota demais pra mim e me sentindo a mais idiota de todos?

Foi então que eu descobri.

Ele está exatamente no mesmo lugar que eu agora, pensando as mesmas coisas, com preguiça de ir nos mesmos lugares furados e ver gente boba, com a mesma dúvida entre arriscar mais uma vez e voltar pra casa vazio ou continuar embaixo do edredom lendo mais algumas páginas do seu mundo perfeito.

A verdade é que as pessoas de verdade estão em casa.

Não é triste pensar que quanto mais interessante uma pessoa é, menor a chance de você vê-la andando por aí?