Um cara vinha andando pela rua cantarolando "Calada noite preeeeta, noite pretaaaaaa" (música das antigas) quando cruza com um justiceiro social, estudante de Ciências Sociais, que ouve estarrecido e intervém:
- Isso é racismo!!! Que diabos você está falando, seu coxinha racista elite branca golpista! Você não pode falar essa palavra, o certo é "noite afrodescendente"!!!
O cara que cantava apenas respondeu:
- Vá te catar. Se quiser encher o saco de alguém vá reclamar com a Vange Leonel, a dona da música.
E continuou cantando, seguindo seu caminho.
O justiceiro social pensa "É isso mesmo que vou fazer, vou descobrir quem é essa mulher, vou problematizar isso com os companheiros da faculdade e vou resolver isso!"
Chegando à faculdade, resolve conversar com os amigos.
- Então, foi isso que aconteceu. Quero pedir a reparação desse ato de racismo pra essa tal Vange Leonel.
Um dos amigos intervém:
- Não sei, não sei... Eu não sei direito quem ela é, mas pelo que ouvi falar ela é lésbica e ativista LGBT. Podemos criar um conflito. Melhor deixar pra lá e fingir que não viu nada...
O rapaz, inconformado, não cede:
- Deixa pra lá nada, eu vou atrás dessa mulher para pedir a reparação desse ato de racismo, opressão e discriminação com os negros!
E vai ao Google fazer uma pesquisa para encontrar a tal cantora.
Até que encontra uma notícia de 2014 do UOL:
"Morre Vange Leonel, cantora de Noite Preta, tema da novela Vamp"
Inconformado, ele pensa consigo mesmo: isso não vai ficar assim, eu ainda posso pedir essa reparação para a família dela, filhos adotivos, sei lá!!!
Tenho que problematizar isso novamente.
E foi assim que nasceu o conceito de "dívida histórica com os negros", após uma nova problematizacão e quarenta quilos de baseado na faculdade de Ciências Sociais.
Fim.